Gigante

por Fábio Pegrucci


Eu acredito ter sido testemunha da primeira vez em que o Gigante entrou no parque. 

Foi em meados de 2009 e eu vi aquele cão magrelo e cambaleante, saído sabe-se lá de onde, passando pelo portão e deitando-se num canto. Eu observei a cena de dentro do carro, quando me preparava para ir embora, mas voltei para vê-lo de perto. Tinha comigo só um punhado de ração, que ele devorou em segundos. O aspecto dele era péssimo. Além da magreza, tinha os olhos embaçados, cheio de secreção (eu julguei que fosse cego) e a pele da barriga e das coxas cheia de feridas, talvez sarna, talvez alergias. Eu que, na época, entendia quase nada sobre cachorros, tive certeza de que se tratava de um cão muito, muito velho.

No parque, início de 2010

Sei que ele foi ficando por lá. Encontrava-o dormindo em qualquer canto, dentro do parque ou na porta de um botequim que fica a poucos metros da entrada. E foi melhorando, engordando, perdendo o aspecto de cachorro velho. 



Muito bonzinho e sociável, seguia as pessoas que brincavam com ele, como seguia a mim por toda parte. Muitas vezes, me seguia para fora do parque quando eu ia embora, até a porta do carro: e eu, tinha que pedir para um dos guardadores de carro do parque que o segurassem ou distraíssem, para que ele não seguisse o veículo.




A Alessandra, que eu já conhecia, também cuidava dele, mas com uma diferença: ela vai ao parque a pé... Um belo dia, o cachorrão apareceu no portão da casa dela, que fica a pelo menos 3 quilômetros do parque. Mas não que a tenha seguido: segundo ela conta, ela a farejou.

Para resumir a história, Gigante - como acabou batizado - não foi adotado: ele a adotou. Foi colocado pra dentro e hoje faz companhia aos outros sete cães da casa.

Bagunceiro, espalhafatoso, barulhento e comilão, é uma versão vira-lata do Marley. Difícil de manter preso, de vez em quando foge e aparece sozinho no parque, de onde precisa ser "resgatado".



Muito longe de ser um cão "velho", quando apareceu era, na verdade, um maltratado filhotão. E mesmo hoje, ainda mais grandalhão, com seus inconfundiveis olhos de duas cores, continua se comportando como um.


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