Velhão

por Os Cães do Parque

Quem testemunhou, se lembra: ele foi abandonado próximo ao portão principal do parque, com casinha e tudo, deixada sobre a calçada. Por dias perambulou desorientado pela rua, até que finalmente entrou no parque e lá viveu por pelo menos dois anos - os últimos anos de sua vida.

Foi certamente um belo mestiço de pastor alemão quando novo e, no parque, o porte e o ar rabugento, serviam para disfarçar que era, na verdade, um cão medroso. Mais velho e mais carente dos cães do parque, o Velhão criou forte vínculo com a cadela Mel, a quem seguia por toda parte - pelo menos enquanto pôde.

Além da idade avançada e da coluna arqueada que o faziam caminhar com dificuldade, nos últimos tempos ele convivia com frequentes erupções de pele. Nós não sabíamos, mas eram sintoma da erliquiose (a "doença do carrapato"), que acabou por derrubá-lo em agosto de 2010. 
Medicado na UNIP
Por uma semana, ainda foi tratado no hospital veterinário da UNIP pelo doutor Lorenzetti e sua jovem equipe de formandos, com o mesmo carinho e atenção que dedicam aos "totós" - e para onde o levamos, carregando no colo para dentro e para fora do carro, a despeito do cheiro que exalava e do fato de urinar sem controle. 

Abrigado, dentro do possível, numa área restrita do parque, tentamos tudo o que foi possível para reanimá-lo: foram dias agasalhando-o, fazendo-o engolir comprimidos, alimentando-o na boca. Mas o Velhão estava cansado, não levantou mais e, no dia 14 de Agosto, um sábado gelado, ele foi embora.

Foi enterrado no parque onde, apesar de tudo, certamente viveu os tempos menos ruins de sua vida: o que pode ter sido a existência desse cão com alguém que, após possivelmente tê-lo mantido por longos anos num quintal, abandonou-o já idoso numa área pública?

Mas enquanto pessoas assim ainda existirem, haverá outras fazendo justamente o contrário, tentando colocar alguma dignidade no final de vida de velhos cães abandonados.


Nota: por terem nos ajudado a tentar salvar a vida do Velhão, gostaríamos de poder agradecer nominalmente à diretora do parque (cujos ofícios proporcionaram que ele fosse atendido na UNIP), aos funcionários e estagiários (que revezaram-se conosco na tarefa de transportá-lo e alimentá-lo). O compromisso de não identificar o parque nos impede. Contudo, fica aqui este registro.

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