Duque

Por Os Cães do Parque


Em Outubro, uma denúncia muito triste de abandono chegou até nós. Quem nos ligou pedindo ajuda, foi a Rosana, que mora numa comunidade ao lado do parque e que conhecemos há alguns meses, numa história contada AQUI.

Uma família se mudara da casa em que vivera durante anos e simplesmente abandonaram na rua os seus dois cães. Questionada pelas vizinhas, a pessoa chamada Eva - que não tivemos o desprazer de conhecer - disse que não ia mesmo levar os cães, que não queria mais ficar com eles e que, segundo ela: "Deus cuida".

Resolver esse tipo de situação causada por gente irresponsável não faz parte da nossa maneira de trabalhar. Mas, muito por consideração a Rosana, no dia 23 de Outubro de 2011, fomos até lá conhecer os cães e ver no que poderíamos ajudar.


Na casa abandonada e semi-destruída, dois cachorrinhos. Um deles se chamava Bidu, jovem, pequeno, amistoso: poderíamos conseguir uma adoção para ele. Mas o outro era velhinho, rabugento, arredio. Quando chegamos lá, estava 'guardando' um chinelo velho de mulher, certamente da 'dona' que o abandonara, como que tentando não se separar dela. Esse era o Duque.

Sujinho, maltratado e obviamente traumatizado: dos dois cães, certamente era ele quem mais estava sentindo o fato de ter sido abandonado. Tinha nos olhos aquela expressão de estranheza e incompreensão que nos acostumamos a perceber em animais encontrados nessa situação. Só faltava perguntar: cadê minha família?

Inscrição encontrada na casa das pessoas que abandonaram os cães
Ao proprietário da casa, com quem conversamos, orientamos a registrar um boletim de ocorrência contra a tal Eva - e ele teria duas razões para isso: ela deixara a casa que deveria estar desocupada com impedimentos (dois cães) e ainda cometera crime ambiental, previsto na lei 9605/98 (abandono de animais). Ele deveria ir até a delegacia de polícia e registrar um boletim de ocorrência.

Mas o fato é que, pessoas diante de fatos como esse, não querem se envolver, não querem confusão: querem apenas se livrar do problema. No caso dele, bastava que os cães sumissem e tudo estaria bem.

Nós não tínhamos nenhuma solução imediata para o caso. Convencemos o dono da casa a ser tolerante e aguardar algum tempo. Os cães permaneceriam lá, nós ajudaríamos fornecendo rações e a Rosana responsabilizou-se por alimentá-los e vigiá-los.

Mas, bem longe dali, a estrela do Duque estava começando a brilhar.

Naquela semana, alguns filhotes que estávamos anunciando para adoção estavam despertando muito interesse e muitos emails de candidatos a adotá-los estavam chegando. Vários de fora de São Paulo. Entre eles, escreveu-nos a Suzy, que mora em Jambeiro (SP): ela queria adotar um dos filhotes. Explicamos que não havia justificativa para levar um cachorrinho para uma viagem relativamente longa, se a adoção dele aqui mesmo em São Paulo era certa. Mas que havia outros cães pelos quais viajaríamos. E mostramos fotos dos dois cachorrinhos abandonados.

A resposta foi imediata: Suzy queria adotar o Duque, o "velhinho com lindos olhos de amor", conforme ela mesma descreveu.

Demorou ainda algumas semanas para que conseguíssemos providenciar que o Duque passasse pelos procedimentos de praxe para ser adotado e para que conseguíssemos encaixar a viagem na nossa agenda entupida de afazeres.

Mas, no dia 20 de Novembro de 2011, o Duque saiu para sempre da deprimente casa abandonada. Nos dias seguintes, foi vermifugado, vacinado, esterilizado, ganhou banho e tosa. Virou um novo cachorrinho: um Duque repaginado e limpinho, mais parecendo um bicho de pelúcia. 

Esterilizado, tosado, limpinho: Duque, esperando o dia de viajar


Ficou com a gente uma semana, tempo suficiente para que sua rabugice diminuísse um pouco. No dia 27 de Novembro de 2011, finalmente, o Duque viajou até Jambeiro (SP) e encontrou um sítio cheio de verde, cheio de espaço, mais alguns 'amigos' adotados. E encontrou-se com a Suzy. 

As imagens falam por si.







Quando nos perguntam por que, afinal, fazemos o que fazemos e por que, afinal, dedicamos tanto tempo, dinheiro e energia nisso, temos vontade de explicar com histórias como essa. Não há muito segredo em viabilizar a adoção de filhotinhos, que acabam sendo todos inevitavelmente adotados. Mas uma reabilitação e uma adoção como a do Duque vale por muitas.

O velhinho rabugento de "lindos olhos de amor" viverá os últimos anos de sua vida com outra noção de espaço, companhia, tratamento e conforto. E aquela pessoa que o deixou para trás, dizendo que "Deus cuida", talvez não estivesse, no fim das contas, tão errada.

É: Deus cuida, dona Eva. Mas só de quem merece.

Entrevista com o novo amigo do Duque






Observação! O Bidu, colega de infortúnio do Duque, também já não mora mais naquele endereço. Uma semana depois nós também o tiramos de lá. Ele já está pronto para ser adotado também e será anunciado nos próximos dias.

3 comentários:

  1. Suzy, parabéns pelo seu gesto e de todo pessoal dos Cães do Parque. São histórias como essas que nos enchem de esperanças de que podemos sim deixar filhos melhores para nosso mundo...

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  2. MEUS PARABENS SUZY,BEIJOS NO SEU CORAÇÃO POR ESTE ATO LINDO,QUE DEUS ESTEJA SEMPRE NA SUA VIDA E QUE VOCEIS SEJAM MUITO,MAIS MUITO FELIZES.BEIJOS QUERIDA.FÁTIMA ANGELO

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  3. Teresa Cristina André12 de dezembro de 2011 às 09:27

    Boa sorte Duque,q agora vc possa conhecer o q é amor na casa dessa família iluminada q te acolheu! Parabéns, Fabio, Soraia, Beleleu e todos q proporcionam uma vida melhor a quem não pede nada a ninguem a não ser amor.

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