Aniversário do site - final!

Por Os Cães do Parque


Já são 2 anos e meio nessa história de proteger e assistir os animais abandonados num grande parque público de São Paulo. 

São 167 adoções concretizadas. 

Só do parque e de seu entorno, tiramos 122 animais de situações de risco ou de abandono: 101 deles, adotados; 12, no momento abrigados e em processo de adoção; 9 morreram antes que pudessem encontrar um lar (7 eram filhotes recém nascidos que não sobreviveram, outros 2, cães resgatados, mas que, doentes, morreram).

No parque, pelo menos em sua área de uso público, desde o dia 08 de Julho de 2010, não nasce sequer um cão. 

Números são apenas curiosidade. Números interessam muito aos 'técnicos', aos especialistas em 'meio ambiente'. Ou, pelo menos, deveriam interessar.

Nós não somos técnicos em coisa alguma. 
Somos cachorreiros.

Mas, simplesmente continuar esse trabalho indefinidamente, por mais que sejamos apaixonados por ele, significa 'enxugar gelo'. As soluções, especificamente para a área pública onde atuamos, são possíveis e, há algum tempo, nós as estamos apontando para os seus gestores.

Para a pequena população de cães lá fixada (pouco mais de uma dezena e alguns já idosos) e vivendo há muito tempo na condição de animais 'comunitários', alguma assistência e que lhes seja permitido envelhecer com dignidade.

Para o parque, medidas efetivas (até mesmo intimidatórias) para que seja coibida a prática de abandonos.

Para as comunidades do entorno, ações mais amplas, de cunho educacional, mas também de maior alcance, como mutirões gratuitos de castração de cães e gatos.

Os argumentos para que tais ações sejam promovidas pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado são dois: evitar o impacto que os animais abandonados causam à área florestal (que eles têm obrigação de proteger) e o fato de não haver nenhum outro caminho, nenhuma solução fácil, nenhum lugar 'mágico' para onde os cachorrinhos possam ser levados e lá viverem felizes para sempre.

Uma sorte momentânea é contar com um secretário de meio ambiente sensível ao tema e que, mesmo lá de seu gabinete, muito longe da lama e dos carrapatos do parque, têm nos dado um apoio decisivo: agradecemos muito ao Bruno Covas pelo carinho com que nos atende e é a partir do interesse pessoal dele que esperamos ver o governo do estado de São Paulo envolvido com essa questão que sensibiliza a tanta gente.

Nós não queremos fazer isso para sempre. Queremos soluções: e as estamos apontando. Um dia, queremos dar esse trabalho por concluído, deixando um legado.



A seguir, mais algumas histórias de animais que tiveram suas vidas modificadas: e que modificaram, sempre para melhor, também as vidas das pessoas que os acolheram.



Meg

Quando ela foi resgatada do parque, em Maio de 2010, era um fiapinho canino, suja, esquálida, infestada de carrapatos. Pequenina e medrosa, não sobreviveria mais que poucos dias naquele mato. 

E aí a Meg foi morar na casa de umas pessoas habituadas ao modo blasé dos gatos se relacionarem com os humanos: e as fez entender rapidinho que cachorro é bem outra coisa. Espetáculo de graça e de humildade, está cem por cento do tempo numa alegria a qual é impossível ficar indiferente.

Como se pudesse mesmo entender o que aconteceu com ela, vive em estado de devoção permanente pelas pessoas que a abrigaram e elegeu a Maria Luíza como sua deusa-mór.

Meg: sim, aquela criaturinha estranha ali da foto de cima era ela.


Pituca (Layla)

A Layla nunca passou pelo parque, não. Mas nasceu não muito longe de lá, na casa de uma senhora com fortíssimas tendências a 'acumuladora de animais'. Deu trabalho convencê-la a castrar suas cadelas e nos deixar encaminhar os filhotes pra adoção.

Quando a anunciamos, logo começamos a trocar emails com uma moça, totalmente decidida a realizar a adoção e que fornecia todas as informações que pedíamos com muita clareza. Só mais tarde descobrimos que a 'moça', era a Isadora e que ela só tinha 11 anos. Autorizada e incentivada pelos pais, adotou a Layla em Outubro de 2011, a rebatizou como 'Pituca' e, aparentemente, a está mimando um pouquinho.

Vocês me dão licença que eu quero dormir? Brigada.



Johnny (Pedrinho)

Ele apareceu doentinho e magrelo no parque há um tempão e foi abrigado pela dona Julimar, que mora lá e, cachorreira como nós, ficou nossa amiga. 

Como ela é torcedora fanática do Timão, batizou o cãozinho inicialmente de 'Dentinho'. Nós achamos que o nome não era bom pra fazer a divulgação e o rebatizamos de 'Pedrinho'. 

Quando, em Dezembro de 2011, ele foi adotado pela Celma e pelo Neílton, um casal muito gente boa da zona leste de São Paulo, teve que mudar de nome outra vez. Agora ele se chama Johnny! Um amor de cachorrinho como ele é, temos a mais absoluta certeza de que, mesmo que o nome dele tivesse que mudar mais 30 vezes, não se importaria. Na casa nova, pelo que sabemos, ele vai muito bem, obrigado.

Agora meu nome é Johnny, valeu?


Tucha

Quando foi achada abandonada na rua, em 2010, a Tucha era uma bebezinha minúscula e já irresistível. Durante o tempo em que permaneceu abrigada, fez muitas amizades, em especial com o gatinho Villie, com quem apareceu numas fotos que fizeram muito sucesso.

Quando foi anunciada para adoção, um mundo de gente a queria e deu trabalho escolher seu adotante. Em Fevereiro de 2011, ela foi morar com a Fátima. Agora ela tem 2 anos e, confirmando todas as expectativas, ficou lindona. Olha ela aí.

A Tucha, que dormia com o gatinho, ficou uma gatona.



Nina (Nany)

Parte da safra de espeloteados filhotes 'surgidos' no parque no comecinho deste ano, a Nany foi adotada pelo Tadeu ainda em Janeiro de 2012.

Foi rebatizada como Nina e, como todo bom filhote que se preze, teve sua fase 'destruidora' e saboreou algumas roupas e sapatos. No mais, é pura alegria canina.

Segundo o Tadeu informa, essa carinha triste aí da foto ela só faz quando ele sai de casa pra trabalhar.

Ei, pai! Me leva com você?



Tobias (Ringo)

Esse carinha passou maus momentos.

Nós o encontramos abandonado num terreno perto do parque, onde havia uma casa semi demolida. Certeza que ele morava lá, com pessoas que se mandaram e o deixaram pra trás. Ele abrigava-se como podia sob os escombros, tinha muito medo e muita fome.

Resgatado de lá, foi batizado como Ringo e ficou com a gente uns 15 dias, tempo suficiente pra se mostrar um dos cães mais carentes que já conhecemos. E aí, em Dezembro de 2011, nós o anunciamos, o Paulo e a Íris estavam procurando um cão pra adotar e foi tudo muito rápido: no dia seguinte ele já estava lá, todo faceiro e cara de pau, curtindo colo, caminha e sofá como se aquele fosse o verdadeiro ambiente dele.

Agora ele se chama Tobias. E de sofá parece que ele realmente gosta muito.

Da fome no terreno, ao sofá do Paulo: como o Tobias subiu na vida!


Laika

Essa nasceu com o rabinho virado (e abanando) pra lua.

Em Maio de 2011, funcionários da limpeza do parque nos pediram pra ir ver uns gatinhos que eles estavam abrigando num galpão, pra tentar adoção pra eles. Nós fomos. Recolhemos os gatos, mas também havia uma cachorrinha. Ela não era de ninguém, só andava por lá. Era muito boazinha e tinha fome, muita fome.

E aí, ela foi junto com os gatos. Como era óbvio que ela entraria logo no primeiro cio, nós a levamos apenas para que fosse castrada. Mas, como não custava nada, fizemos um anúncio pra ela. E eis que, quase que imediatamente, apareceram a Gláucia, o Jamal e as filhas Maria Luiza e Maria Eugênia: eles haviam resolvido adotar um cãozinho e, numa tarde de sábado, foram conhecer a Laika. Apenas conhecer.

Aí, diz a lenda, que a Laika, muito esperta, foi logo fazer festa pro Jamal. Ganhou o chefe da família e depois ganhou todo mundo. O resultado é que, na mesma tarde, apenas 3 ou 4 dias após ser achada por acaso no parque, ela foi embora com eles.

Agora eles nos contam que ela é parte da família e que já nem se lembram mais de como era a casa antes dela chegar. E que, entre tantas coisas, ela adora correr com o Jamal no Parque do Ibirapuera.

Ô, menina de sorte.

Sorte, seu nome é Laika.



Vida

Essa história é quase um emblema e muita gente já a conhece.

Em Junho de 2011, os vigias nos avisaram que havia uns filhotes abandonados numa área distante e pouco frequentada do parque - na verdade, um matagal de meter medo, tão inóspito que a gente não entende como o governo do estado não sente vergonha de classificar aquilo como parte de um parque público.

Eram quatro filhotes minúsculos numa caixa de papelão. De olhos fechados e ainda com os cordões umbilicais. Tinham, com toda certeza, apenas algumas horas de nascidos. Certamente nem sequer haviam mamado na mãe. Conseguir que sobrevivessem parecia missão impossível, mas a Soraia, doida, aceitou o desafio.

A tarefa era amamentá-los, aquecê-los, estimulá-los e limpá-los praticamente o tempo todo, como a verdadeira mãe faria: e até para o trabalho ela levou a caixa de cachorrinhos pelos dias seguintes. Mesmo com todo o esforço, dois filhotes, mais fraquinhos, logo morreram. Um outro, embora mais forte, morreu uns dias depois. 

Restou um sobrevivente, uma fêmea, que após 15 dias começou a abrir os olhinhos. Depois a andar, a correr, a latir, a mastigar coisas. Exatamente como qualquer cachorrinho. Ficou com umas orelhas espetadas, umas pernas compridas, um pelo pretinho e brilhante e um ar de quem está sempre de bem com a vida. 

Vida: é o nome dela.

Vida: do leite em conta-gotas, até hoje em dia.


Talvez por não saber exatamente se é um cão, um gato (a casa é cheia deles) ou uma criança humana, tem umas esquisitices engraçadas.  

Vida foi castrada, vacinada e anunciada pra adoção como todos. E, até mesmo por sua história, teve um mundo de pretendentes (não fazemos ideia de quantos foram, perdemos a conta).

Mas ...

Mãe é mãe.

Vida não vai mais sair da casa onde praticamente nasceu. E um dia, talvez, a Soraia resolva lhe contar que, na verdade, ela é adotada. Talvez.

Mãe, tô começando a desconfiar que eu sou adotada.



Os Cães do Parque agradecem aos adotantes que disponibilizaram imagens recentes de seus bichos (e também aqueles que as publicam no Facebook, de onde as pudemos surrupiar). Como sempre fazemos questão de dizer, vocês são a parte mais importante da história e adoramos poder manter contato constante (às vezes diário) com muitos de vocês.

Esta série de postagens foi feita para vocês.
Valeu, gente.

Um comentário:

  1. Mais uma vez parabéns por sua dedicação e bondade, pela chance de promoverem encontros de amor verdadeiro. Há pouco desejei q esses aniversários se perpetuassem, mas agora entendo q o desejo real é q sejam breves. É assim q deve ser, o abandono não deve existir, é uma crueldade enorme. Aposto em vcs para q consigam seu objetivo, q é o desejo de todos nós. Sempre estaremos aqui para apoiá-los e ajudá-los a chegar a esse ideal. Bjs

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