modelo de ação


O possível











Qualquer pessoa que, por amor aos animais e por se sensibilizar com os cães e gatos abandonados que vê pelas ruas, pense em dedicar parte de seu tempo e de seus recursos a um trabalho de proteção, precisa ter em mente uma coisa básica: por mais que se dedique, ninguém poderá resolver o problema sozinho.

Mais que isso: ainda que com os esforços somados de todas as entidades de proteção e de todos os protetores individuais, a curto prazo esse problema não tem a menor chance de ser totalmente erradicado. Trata-se de um questão cultural e, como tal, depende da conscientização das pessoas - e isso leva tempo. 

Portanto, se não é possível salvar todos os animais, cabe a cada um que se dedique a essa tarefa, fazer o possível - e fazer bem feito


O foco

 









É extremamente importante ter foco em um local: parque, praça, rua, comunidade. 

Nós temos foco em um parque público. Foi cuidando de uma pequena população de cães abandonados nesse parque que tudo começou. Ainda hoje fazemos isso. 

Dos cães que viviam no parque há cerca de três anos quando o trabalho se iniciou, alguns foram adotados, alguns morreram, alguns desapareceram e alguns ainda vivem lá. Nós os monitoramos, alimentamos, prestamos cuidados básicos, acudimos quando adoecem ou se ferem. E estamos sempre atentos às possibilidades de adoção.

Atuando voluntariamente, principalmente no controle populacional desses animais, passamos a beneficiar a própria instituição e, por consequência, a dialogar com seus administradores. Esse é outro ponto fundamental do nosso modelo de ação: mostrar a cara, fazer as coisas de forma aberta, dialogando, colaborando, sendo parceiros.


O voluntariado











Os Cães do Parque não mantém um abrigo ou canil. E não temos nenhum plano ou mesmo desejo de ter um lugar assim. O modelo tradicional de proteção, de abrigar animais em casa, que sempre começa com a melhor das intenções, a nosso ver, sempre termina da mesma forma: com caos, estresse, inviabilidade, falência emocional e financeira. 

Nós fazemos o que podemos - e só o que podemos.

E o que fazemos, fazemos com recursos próprios: não nos parece sequer coerente dedicar-se voluntariamente a algum trabalho necessitando de ajuda material de outras pessoas para desempenhá-lo. 


Os procedimentos

 









Regatamos e abrigamos apenas animais em situação de risco extremo e de adoção viável, principalmente filhotes abandonados no parque e no seu entorno. Colaboradoras lhes dão abrigo temporário apenas pelo tempo necessário para que sejam preparados para adoção. 

A esterilização é o procedimento obrigatório, pelo qual todos os animais que encaminhamos passam. E nem poderia ser diferente: colaborar com o controle populacional dos animais urbanos é a missão número 1 de qualquer um que se dedique a esse trabalho.

Usamos tudo o que é possível do que é oferecido pelos serviços públicos. O programa de castrações da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, apesar de insuficiente, tem sido indispensável.  

A ideia é, obviamente, sempre entregar ao adotante o animalzinho, além de esterilizado, em plenas condições de saúde.



As adoções

 









Os Cães do Parque não participam de feirinhas de adoção. Para chegar aos candidatos a adotantes, usamos apenas a internet. Através de um pequeno questionário, complementado por contatos telefônicos, procuramos nos certificar se o possível adotante é compatível com o animal em questão. 

Temos acertado quase sempre.

Os animais só saem de onde estão abrigados quando o adotante já está escolhido. Quase sempre entregamos o bichinho na casa da pessoa. Nada cobramos por isso. Se o adotante quiser contribuir com produtos que, simbolicamente, cubram parte dos custos gerados pelo animal que está recebendo, é bem aceito: e consideramos um gesto bastante elegante.

No ato da entrega, o adotante preenche e assina um documento, o Termo de Adoção e Guarda Responsável

A entrega de um cão ou gato para sua nova família é o instante de maior alegria desse trabalho: é quase sempre uma festa.


O marketing




  






Você não escolhe seus amigos pela raça, mas sim pela afinidade. Você não compra seus amigos, você os conquista. Adotar um animal tirado do abandono é, mais que um ato óbvio de amor, um inestimável ato de cidadania

Essas são algumas das teclas em que mais batemos. 

Animaizinhos anunciados para adoção têm que ter nomes, histórias, boas fotos e vídeos. Os anúncios precisam de criatividade, de humor.

Ninguém deve adotar um animal por piedade. Anúncios chorosos de protetores que fazem questão de contar em que condições miseráveis encontraram um animal e o quanto se sacrificaram e gastaram para deixá-lo saudável e bonito não são eficientes: isso é coisa de gente carente e exibicionista que sente necessidade de se sentir o "herói" da história.

Nada disso interessa ao adotante. A ele, interessa apenas saber que aquele animal é lindo e o fará feliz. E que adotá-lo não é um ato de piedade: é um privilégio.


A recompensa











Preparar um cão abandonado para adoção pode ser um trabalho de paciência, pode demorar, pode exigir cuidados especiais. Lida-se com xixi, cocô, vômitos, pulgas, carrapatos, sarnas, vermes e com animais muitas vezes traumatizados e que precisam ser reabilitados. 

Pode demandar gastos imprevistos, correrias, preocupações.

Proteger animais é uma tarefa que exige comprometimento, dedicação e aptidão. Que nos coloca em constante rota de colisão com pessoas maldosas, negligentes, insensíveis, irresponsáveis, canalhas. Que nos faz presenciar sofrimento, medo e dor.

É o ônus. E isso tudo não repartimos, não divulgamos, não compartilhamos. Os problemas e as histórias ruins ficam guardadas conosco. Ninguém mais precisa conhecê-los.

Entendemos a nós mesmos como distribuidores de alegrias

Adotantes, tornam-se amigos que fazem questão de nos enviar periodicamente notícias e fotos de seus bichos queridos, que um dia passaram pelas nossas mãos.

A quem nos pede, damos orientação sobre como proceder ao encontrar um animal abandonado e como encaminhá-lo corretamente para adoção. Difundir conhecimento é uma maneira de multiplicar o trabalho. 

E este não é um terreno para vaidades: o que mais desejamos e sermos copiados! Que mais e mais gente faça o que fazemos, da nossa maneira ou inventando maneiras próprias.

O que fazemos é motivado por prazer: apesar de todos os pesares, nos divertimos muito. Sim: nos divertimos! E poderia ser diferente? Alguém pode obter êxito em um trabalho voluntário e sem qualquer tipo de remuneração se ele significar uma pesada cruz sobre os ombros?

Enquanto for assim, continuaremos.
Que seja sempre assim.