Preta Mattar

por Fábio Pegrucci

A Preta viveu no parque por cerca de um ano e era extremamente popular por lá, alegre e amável com qualquer um que se aproximasse. Não tinha, ao contrário de outros cães, uma área fixa: passeava por todo o complexo e às vezes desaparecia por alguns dias. Aos domingos, era comum vê-la circulando do lado de fora do parque, atraída pelo cheiro de churrasquinho e hot-dog. Também frequentava a área onde famílias fazem pique-nique, sempre tentando ganhar alguma coisa. Simpática e atrevida como era, naturalmente dava-se bem nessas investidas.

No parque, início de 2010.

Enturmava-se facilmente com outros cães, principalmente para promover perseguições aos patos, gansos e, principalmente, capivaras. A perigosa brincadeira, consistia em assustar os enormes e quase sempre pacíficos roedores e fazê-los mergulhar, em bando, no lago, com grande estardalhaço. Várias vezes vi gente se juntando ao redor do lago para assistir aos "showzinhos" comandados pela Preta e seus amigos.

No início de 2010, éramos a Alessandra e eu nos revezando nos cuidados com os cães do parque, aos quais havíamos nos afeiçoado. Basicamente, os alimentávamos algumas vezes por semana. Mas uma onda de cadelas entrando no cio, fez com que resolvêssemos, por conta própria, começar a promover castrações.

A idéia era que, após as cirurgias, elas passassem uns poucos dias na casa da Alessandra para recuperação e depois fossem reintroduzidas no parque. O esquema deu certinho com as amáveis Loirinha e Dentinho, as primeiras a serem castradas. Mas não deu certo com a Preta, que foi operada logo depois.

Ocorre que a moça gostou tanto da casa da Alessandra - que tem oito cães, todos adotados, num espaço reduzido - que não quis mais saber de morar no parque. Tentamos por três vezes reintroduzí-la, na última inclusive deixando-a presa por alguns dias numa área restrita para que se "esquecesse". Mas nada: ela, surpreendentemente, achava o caminho de volta para a casa da Alessandra, que fica a pelo menos 3 quilômetros do portão do parque, num caminho perigoso, passando por avenidas movimentadas. Pior que isso, também não gostava de ficar presa lá e, sempre que lhe dava vontade, ao menor descuido, fugia para a rua. Algumas vezes passava o dia no parque e voltava à noite.


Cães são diferentes entre si, no temperamento, na personalidade. Preta é ousada, independente, indomável - e inteligente, muito inteligente.


Mas, por isso tudo, tornou-se um problema.
Ela precisava de um lar definitivo, de preferência bem longe dali, para que começasse e se habituasse a uma vida totalmente nova.

E foi a primeira adoção anunciada via Twitter.

Quando, alguns dias depois, a arquiteta Aline Mattar, de Curitiba, e sua prima Penélope, de São Francisco do Sul (SC), disseram que gostariam de vir buscá-la em São Paulo, a princípio não levei a sério. Mas, dias depois, confirmaram. E, algumas semanas mais tarde, Aline, Penélope e Mari Mattar vieram a São Paulo, passaram o fim de semana e, no dia 24 de Julho de 2010, embarcaram de volta a Curitiba levando com elas a Preta.

Viajando para Curitiba e aparecendo, em tempo real, no twitter

Sorridente, na chegada a Curitiba.

Cachorreiras experientes, com muitas histórias de resgates e adoções, as mulheres Mattar eram o destino certo para a espevitada Preta. 

Em Curitiba, ela foi adotada pela Rosângela Mattar - tia de Aline e Penélope - e hoje vive na companhia dos poodles Willy e Wally.

A nova vida de Preta

Segundo nos garante a Rô Mattar, a ex-bagunceira do parque adaptou-se ao modo de vida urbano, a viver numa casa, a frequentar petshops e a receber alimentação regrada.

Obviamente, também não persegue mais bichos silvestres.

Cresceu?

E, para fazer jus ao título de cachorra adotada na era digital, Preta ainda se "comunica" eventualmente conosco pelo hilário twitter @PretaMattar. 

Eu recomendo que todos sigam.

Só não descobrimos ainda com o que eles alimentam os cães em Curitiba: quando saiu daqui, garanto, Preta não era desse tamanho.

Dedicado às queridíssimas @RoMattar, @AlineMattar, @pepelona e @Mari_Mattar.