Nara & Suzy

Por Os Cães do Parque


No dia 26 de Maio de 2011, por telefone, fomos informados pela administração do parque que filhotes haviam sido abandonados lá: começava uma ação de fôlego que só terminaria 45 dias depois.

Eram três filhotes já crescidinhos - na verdade, três fêmeas - que zanzavam pelo gramado próximo ao estacionamento, a poucos metros de uma caixa de papelão grande. A caixa, suja de excrementos, não deixava qualquer dúvida sobre o que acontecera: alguém entrara de carro e, como sempre, sem que ninguém visse, deixara a caixa com as cachorrinhas e saíra sem ser incomodado.

Sem grandes dificuldades, conseguimos capturar as duas cachorrinhas menores. Mas a maiorzinha, ficou apavorada com a coleira, conseguiu escapar, fugiu e embrenhou-se num matagal. Era fim de tarde, já anoitecendo, mas por um bom tempo a procuramos e não conseguimos encontrar.

Com a autorização da instituição, abrigamos as duas numa área restrita do parque, um antigo e desativado hospital veterinário, um lugar distante, fora da área de visitação, mas por isso mesmo bem adequado. 

Nos dois dias seguintes, nenhum sinal da cachorrinha fujona. Ninguém a vira. Chegamos a pensar que ela poderia ter fugido para fora do parque ou que, talvez, alguém a tivesse levado. 

No fim da tarde do sábado, dia 28 de Maio, embora já estivesse novamente perto de escurecer, cismamos de vasculhar novamente o matagal onde a víramos entrando: e a achamos. Encolhida, escondida sob folhagens, tremendo de medo, lá estava ela. Passara as últimas 48 horas ali, imóvel e apavorada. Mais um pouco, morreria. Ainda tentou fugir, mas dessa vez a conseguimos segurar. Imediatamente, foi levada para o abrigo, ao encontro das irmãs, que a receberam com muita festa.

Mila
Passamos a nos revesar para diariamente cuidar de Mila (a pretinha), Nara (a rajada de porte menor) e Suzy (a fujona, maior e mais medrosa das três): alimentar, limpar o abrigo, protegê-las das noites mais frias do ano (e o parque é tido como o lugar mais frio de São Paulo), interagir com elas, deixá-las sair para o gramado para que tivessem pelo menos alguns instantes de liberdade por dia. 




No dia 13 de Junho, foram todas castradas.

Mila, adotada

Fotografadas e filmadas, foram anunciadas para adoção. A pretinha Mila fez sucesso nas fotos de pijaminha, teve rapidamente alguns interessados e foi adotada pela Mariana no dia 18 de Junho de 2011, como já contado em outra postagem. 



Restava encontrar uma adoção para Nara e Suzy: e decidimos, mesmo sabendo que seria difícil, não abrir mão de que fossem adotadas juntas. Primeiro porque tornaram-se completamente inseparáveis, a ponto de entrarem em pânico se fossem separadas mesmo que por alguns instantes. E também porque deixar apenas uma delas - fosse qual fosse - sozinha no abrigo seria cruel demais.

Suzy

Nara

Demorou, sim. Semanas se passaram. Nos preocupamos.

Mas quando o primeiro e-mail da Teresa chegou, imediatamente soubemos: era ela a adotante que estávamos esperando. 

Após tantas adoções promovidas, a gente aprende a perceber essas coisas. Pessoas conscientes, lúcidas, que realmente querem adotar e que compreendem e respeitam o trabalho do protetor são objetivas: sem que se pergunte já fornecem informações básicas que sabem ser importantes, não se escondem, no primeiro contato já deixam telefones, se oferecem para ir buscar o animal e perguntam no que podem colaborar com o trabalho. 

E quando a paixão se dá por cães sem raça definida, melhor ainda: essas são as melhores pessoas que se pode encontrar nesse trabalho - porque não querem um bibelô de raça para enfeitar a sala, querem dar lar a aqueles cães que conheceram em fotos e vídeos, os querem correndo no quintal de casa.

Só havia um pequeno inconveniente: Teresa mora no Rio de Janeiro. Mas o que são alguns quilômetros diante da possibilidade de conduzir as duas já tão queridas irmãs para um lar perfeito?

Preenchidas todas as formalidades, tudo combinado, deflagramos a operação: domingo pela manhã, dia 10 de Julho de 2011, Nara e Suzy de banho tomado e enfeitadas, todo mundo no carro, até o ponto de encontro em Guaratinguetá, meio do caminho entre Rio e São Paulo.

Viajando
Que sono!
Em Guaratinguetá: esperando a nova família chegar
Despedidas


Teresa foi com o genro Tiago e a filha, a médica veterinária Mariana. Sim, também isso: Nara e Suzy terão uma veterinária própria. E vão morar juntas, numa casa grande, na companhia de mais alguns animais adotados.

Tiago, Teresa e Mariana, com Nara e Suzy, rumo ao Rio
Os 40 quilos de ração com os quais a Teresa nos presenteou serão destinados aos cães do parque: nós nunca cobramos nada de ninguém, mas consideramos doações desse tipo algo extremamente elegante.

Missão cumprida, irmãs encaminhadas e novos amigos conquistados: nós nem nos lembramos do cansaço e das preocupações. Muito menos nos lembramos daquela caixa de papelão de 45 dias atrás, mencionada lá no começo da história.

Mas de Nara e Suzy não vamos nos esquecer.





4 comentários:

  1. Nossa que lindo,meu sonho é fazer um trabalho igual o de vcs!!
    Tenho 17 anos,pretendo fazer faculdade de veterinário e abria um abrigo!!AMO animais!!
    Obrigado por me inspirarem cada dia mais!!

    ResponderExcluir
  2. Lágrima nos olhos. Que bom que vocês existem.

    ResponderExcluir
  3. Querido amigo, adorei seu texto. Elas estão se adaptando rápido, já latem para os barulhos q desconhecem, estão se sentindo as donas da casa. E pasme, Suzi é a chefe, com Nara acompanhando nas brincadeiras. Estão felizes! E nós também.
    Bjs

    ResponderExcluir
  4. Deus abençoe estas pessoas maravilhosas que adotam!!! Exemplo de amor incondicional! Parabéns pela atitude! e Abençoe o trabalho de vcs!

    ResponderExcluir